sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Turdus merula

Aquele palhaço sempre a gargalhar, uma fonte de desordem, um empata gente séria. Era assim que se referiam a Lúcio.

Na aldeia havia gente séria, gente com dons divinatórios. Anteviam coisas que as pessoas percebiam. Por isso recorriam a eles. As respostas tinham mais solenidade do que as perguntas. As perguntas eram sobre a vida. Quando me vou casar? O meu marido vai deixar a Bezerrinha? Irei herdar o lameiro? As respostas apontavam para mais além, punham condições, obstáculos a ultrapassar, mezinhas para fazer bem feitas. E as pessoas lá regressavam a casa, com os seus temores confirmados, mas com uma adquirida grandeza e um caminho para percorrer.

Quando confrontado com estas grandezas, Lúcio gargalhava. Olhavam para ele, que não fosse palhaço. Mas ele dizia:

— Vão pequeninos e regressam grandes na mesma.

E depois gargalhava de novo. Por isso não o levavam a sério. A segunda gargalhada era idêntica à primeira, como se não tivesse dito nada.

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