sábado, 8 de agosto de 2015

Nicolaus Nicolau

De todos estes bichos há um que me intriga mais do que os outros. É a espécie Nicolau do género Nicolaus. Um bicho em que cada exemplar não deve diferir dos restantes e, contudo, como isso está constantemente a acontecer toda a espécie se vai moldando à alteração ganhadora mais recente. Com propriedade, nem sequer se pode afirmar que a espécie Nicolau exista, mas sim, que existe um conjunto de espécies do género Nicolaus e que estas espécies de um único exemplar se copiam num sincronizado movimento, como os peixes de um cardume. Sempre quase a ficar iguais.

Para uma melhor análise vou-me focar num único exemplar de uma espécie do género Nicolaus. Chamemos-lhe, para ter um nome, Senhor Nicolau. Tomo aqui a liberdade de usar o nome da espécie, Nicolau, para referir o seu único exemplar, o que não será um abuso pois ele é efetivamente único, e uso Senhor para denotar uma outra espécie. Não é uma espécie real, essa é Nicolau e tem apenas um exemplar, o Senhor Nicolau, mas é uma espécie criada, daquelas que constantemente estão a aparecer, e desaparecer, dentro do género Nicolaus.

Foquemos-nos agora nestas espécies criadas, aquelas que permitem agregar estes exemplares desgarrados do género Nicolaus. No caso do Senhor Nicolau é Senhor. O Senhor tem propriedades e foi mandado estudar para Coimbra para ser Doutor. Contudo falha a transitar da espécie Senhor para a espécie Doutor. Isso provoca alguma consternação noutros membros do género Nicolaus, especialmente os mais próximos, pois não era isso que dele se esperava. Estranhamente, ao Senhor Nicolau isso não o parece afligir. Continua a ser tratado como são tratados todos os da espécie Senhor, com deferência e um olho aberto à cata de oportunidades.

E as oportunidades não faltam. Aparentemente desimbuído de qualquer preocupação acerca da sua espécie criada, o Senhor Nicolau vai perdendo o Senhor, ficando cada vez mais só Nicolau. Um pecado capital numa espécie de um único exemplar.

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