quarta-feira, 25 de abril de 2012

Linha Vermelha

O filme Linha Vermelha de José Filipe Costa é um filme honesto, não porque o Cinema seja necessariamente honesto, mas porque o realizador o é. É um documentário sobre o filme Torre Bela de Thomas Harlan, que relata a ocupação de uma herdade no Ribatejo em 1975. O documentário mostra como a presença da câmara de filmar desencadeia acontecimentos e como Thomas Harlan a usa para manipular a realidade. Ainda assim, como a manipulação necessita de se alimentar da realidade para ser verosímil e a passagem do tempo torna a manipulação quase anedótica, fica muito para ver.

Vê-se o dono da herdade no seu palácio (era assim que os trabalhadores viam a casa da herdade) dizer, com um Francês distinto, não saber de onde vinham os trabalhadores da herdade. Veem-se os trabalhadores, com um ar infantil a olhar boquiabertos para o palácio. Era este o Portugal de antes do 25 de Abril. Linha vermelha segue o percurso dos ocupantes até aos dias de hoje e percebe-se que já não olham boquiabertos para o palácio. Contudo não segue o percurso do dono da herdade pelo que ficamos sem saber se o resultado de perder o seu palácio foi ter-se fechado noutros palácios, mais ou menos virtuais, limitado a saber do que ocorre lá fora através da mediação de Rasputines.

Na França, em 1789, quem tinha o poder vivia fechado num palácio chamado Versailles e tinha pouca consciência do que acontecia na sua herdade chamada França. Foi preciso uma revolução para deixar de haver um Rei da França e passar a haver um Rei dos Franceses. Contudo, não deixa de ser curioso que a verdadeira revolução aconteceu alguns milhares de quilómetros para oeste, com a independência dos Estados Unidos.

Neste momento de crise começam a resurgir os desígnios que ultrapassam a dimensão das pessoas. É Portugal, é a Nação, e deixa de ser os Portugueses. O sacrifício das pessoas é pedido a bem destes desígnios pintados de abstrato. Contudo a História ensina-nos que eles nunca têm nada de abstrato e são de fato os desígnios de alguns.

sábado, 21 de abril de 2012

Um gato

Era uma vez um gato gordo e fofo que fazia cocó na banheira e uma menina que gostava muito do gato porque uma menina é uma menina e um gato é um gato.

terça-feira, 17 de abril de 2012

sábado, 7 de abril de 2012

Do Poder e dos Afetos (snipers)

As três primeiras intervenções são certeiras e claramente dirigidas umas às outras. Antevê-se o despertar de paixões, uma guerra. E se os primeiros tiros forem apenas uma encenação?

Numa trama digna de Agatha Christie dir-se-ia que objetivo das primeiras intervenções é apenas o despertar de emoções. Mas não é necessário ir a Agatha Christie, a história das guerras civis está cheia de aprendizes de feiticeiro, que começam fascinados consigo próprios e acabam num emaranhado de feitiços.

Depois vem o nojo, o silêncio, o esquecimento, e então surge um novo aprendiz que pensa que desta vez é que é.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Kizomba

Gosto de Kizomba.
Gosto de dançar com horizontes cheios de embondeiros que não há maneira de parirem.
Gosto de dançar com horizontes que não param de parir mais e mais embondeiros.
Gosto de dançar com canções prenhes de palavras que não entendo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Do Poder e dos Afetos (2)

MACBETH
We will proceed no further in this business:
He hath honour'd me of late; and I have bought
Golden opinions from all sorts of people,
Which would be worn now in their newest gloss,
Not cast aside so soon.

LADY MACBETH
Was the hope drunk
Wherein you dress'd yourself? hath it slept since?
And wakes it now, to look so green and pale
At what it did so freely? From this time
Such I account thy love. Art thou afeard
To be the same in thine own act and valour
As thou art in desire? Wouldst thou have that
Which thou esteem'st the ornament of life,
And live a coward in thine own esteem,
Letting 'I dare not' wait upon 'I would,'
Like the poor cat i' the adage?

MACBETH
Prithee, peace:
I dare do all that may become a man;
Who dares do more is none.

LADY MACBETH
What beast was't, then,
That made you break this enterprise to me?
When you durst do it, then you were a man;
And, to be more than what you were, you would
Be so much more the man. Nor time nor place
Did then adhere, and yet you would make both:
They have made themselves, and that their fitness now
Does unmake you. I have given suck, and know
How tender 'tis to love the babe that milks me:
I would, while it was smiling in my face,
Have pluck'd my nipple from his boneless gums,
And dash'd the brains out, had I so sworn as you
Have done to this.

MACBETH
If we should fail?

LADY MACBETH
We fail!
But screw your courage to the sticking-place,
And we'll not fail.

- Macbeth, William Shakespeare