Era uma decisão do Imperador, que aceitava, mas não era isso que intrigava Horácio. A questão era saber se acabar aqui, no escuro, imobilizado e tolhido de frio, não era a negação do resto, do que tinha passado lá fora, antes de aqui chegar.
Sem dúvida que se elevaram vozes para o condenar pela vida que teve, seja pela preguiça, o otimismo ou a cegueira. Vozes que repetiam que este frio era o castigo anunciado. Vozes esganiçadas pela certeza que se Horácio soubesse, Horácio não teria sido Horácio.
Mas seria o castigo uma forma de expressar o tempo, de transformar numa memória dolorosa a alegria das tardes a estalar de som ao sol? Não seria o castigo fazer letra morta dos cantos em que gerações de Horácios simultaneamente ignoraram e cantaram este cárcere?
Agarrando-se às grades geladas e ferrugentas, Horácio não encontrou qualquer dissonância entre o rigor do cárcere e o esplendor da crista do castanheiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário