domingo, 12 de fevereiro de 2023

O Homem que Vivia com Duas Formigas

Esta é uma história de um homem que vivia com duas formigas. Bem, na realidade, é assim que a história acaba, porque no início ele achava que vivia sozinho.
Vivia numa casa que não era grande nem pequena. Era térrea. Talvez pequena para casa térrea, mas se não fosse térrea, se fosse, por exemplo, um apartamento, até se poderia dizer que era jeitosa. Tinha uma sala, dois quartos e uma cozinha, para além da casa de banho, claro, que ninguém consegue imaginar uma casa sem casa de banho.
A porta de entrada dava para um pequeno jardim onde havia um portão que dava para a rua. E não fiquem logo a pensar que o jardim era grande e bonito. Quando se diz a palavra jardim é isso que nos vem à cabeça, eu sei. Por isso estou a alertar-vos, era mesmo muito pequeno e quanto a ser bonito já lá vamos, que isto de ser bonito não é tão simples como parece.
Se havia alguma coisa que o jardim tinha, era um canteiro. Sim, um canteiro. Um pedaço de terra rodeado por um pequeno muro por todos os lados. Pequeno de um palmo e meio, mais coisa menos coisa.
O muro separava o chão de cimento da terra que ficava dentro do canteiro. Terra só mesmo dentro do canteiro. E isso era uma coisa que o homem levava muito a peito. Essa era, pelo menos assim pensava, a principal razão pela qual havia o muro. Evitar que sujasse os sapatos de terra.
O homem tinha pavor, às vezes até se zangava com ele mesmo, de levar terra agarrada aos sapatos para dentro de casa. Assim se percebia sempre que entrava em casa. Esfregava os pés no tapete, uma vez, duas vezes, três vezes, às vezes até quatro vezes, colocando um pé de cada vez à frente e puxando-o com força para trás, também à vez. Fazia isso com tanta energia que abanava a cabeça em consentimento, concordando consigo mesmo, como que dizendo para si, é assim que deve ser, ter os pés bem limpos antes de entrar em casa.
Por isso lá estava o muro, para evitar que a terra passasse do canteiro para o chão de cimento e deste para os sapatos. E era só para os sapatos do homem, que ele não era de receber muitas visitas. Nem muitas, nem poucas, pelo menos durante a duração desta história não nos apercebemos que tenha recebido alguma. Mas, a sermos verdadeiros, também não podemos jurar que não as tenha recebido.
Reparem que enquanto estiverem a ouvir esta história, que é tão grande ...