De Eveline, a primeira impressão não permaneceu. Enquanto caminhou connosco, no resto do percurso de ontem e durante o dia de hoje, não lhe vislumbrei no rosto cansaço ou hesitação. Antes pelo contrário, havia jovialidade e desenvoltura a andar. De nós era quem mais falava. Não que iniciasse as conversas, mas aos nossos comentários sempre acrescentava algo. Também James começou a conversar mais. Agora deixava-se ficar para trás, tendo perdido alguma daquela determinação cega que no início o guiava.
A estas transformações não será de todo estranho a alteração que ocorreu no caminho. Conforme fomos descendo a montanha começaram a suceder-se os cursos de água, por vezes com pequenas cascatas. Nestas zonas da montanha a água corre célere, mesmo que em pequena quantidade. Também a temperatura foi gradualmente aumentando ao mesmo tempo que a água, levantada pela queda e encurralada nos desfiladeiros, criava um ambiente húmido e cerrado, diferente daquele que tínhamos encontrado no topo.
E depois há um som constante. No cume de uma montanha o som é tão rarefeito como o ar, mas aqui em baixo os sons são levados nas partículas de água. O som da água mistura-se com a voz de Eveline, com o ruído das pedras que resvalam sob as nossas botas e, acima de tudo, com o silêncio todo ouvidos de James. James diz algo e depois cala-se a ouvir Eveline. Mais tarde vim a perceber que o que interessa a James não eram as respostas de Eveline, mas o conjunto de sons no qual a voz de Eveline se inscreve. Eveline deixa-se ir nesse jogo pela satisfação que lhe dá ouvir a sua voz nos ouvidos de James.
A meio da tarde chegamos a uma cascata formada por um retângulo perfeito. É feita de fios de água que caiem sem alvoroço sobre um pequeno lago, como se este tivesse sido desenhado para receber aquela corrente. No cimo do retângulo, um emaranhado de árvores forma uma boca verde de onde jorra a água. Em baixo, uma linha abre-se no lago para deixar gentilmente entrar a água. À volta tudo é verde e, devido ao sombreado do local, predominam os fetos.
Eveline senta-se a olhar para a cascata. O rosto é redondo, com os olhos negros e o nariz curto. As orelhas, pequenas, mal se notam sob um cabelo escuro e corrido. A idade que agora aparenta é o culminar da descida e da cascata. Um pequeno círculo nada em direção ao retângulo. A cabeça é engolida entre a água que lhe cai em cima e a água que se abre para a receber. Já do lado de lá da cortina de água, por entre os fios, está o rosto de Eveline que nos observa.
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