James não fala muito, mas também ninguém vem aqui para falar.
De manhã faço um pequeno percurso para ver o glaciar. É uma enorme massa de gelo a desabar sobre um pequeno lago. As cores do gelo vão variando com a posição do sol, o passar de uma nuvem e o local de onde observamos. Por isso, quer estejamos parados ou nos movamos, as cores vêm ter connosco escondendo a exata forma do gelo. Mas há ali azuis, muitos azuis, e não é difícil também lá imaginar verdes. E prevalece um efeito de vidro fusco cheio de luz do lado de lá.
No lago flutuam blocos de gelo que se desprenderam e soprados pelo vento se empurram contra a margem. Alguns destes blocos estão esburacados pelo sol formando esculturas flutuantes que se derretem lentamente. Pego num desses blocos e coloco-o sobre um pedra. Alguns fios negros começam a percorrer a pedra, a torneá-la, em direção ao chão. A escultura de gelo vai dando lugar a uma escultura de pedra feita de riscos de água.
Do outro lado está James. É um vulto à beira de um penhasco virado para o glaciar. Deixa-se estar por ali, imóvel. As nuvens que vão passando pelo glaciar também passam por ele. Não parecem ser a sombra e o frio que o movem. Muda de lugar, começa a descer o penhasco, presumo que procura aproximar-se do glaciar. Tem os movimentos determinados que lhe reconheci na subida. Vai passando rapidamente de pedra em pedra, cada vez mais próximo sinto-lhe alguma ansiedade, como se tivesse a chegar tarde. Por cansaço, ou porque já não tem mais pedras à frente, estaca de novo. À sua frente o glaciar é enorme, uma onda de gelo que se me afigura o ir engolir. Uma espessa nuvem passa por aquela parte do glaciar e com a luz que me chega de outros pontos deixo de ver James. Do que ali se passará nada sei, apenas o que li algures.
Sem comentários:
Enviar um comentário