O que se passou no dia de hoje, ou deverei dizer noite, pela presença do fantástico, ou deverei dizer do passado, é bastante irreal. Quando penso neste dia parece-me mais um sonho que uma caminhada. Poderia descrevê-lo como o primeiro, mas vou fazê-lo como a segunda.
O segundo dia a caminhar na trajetória ecliptíca, com o horizonte a prolongar-se, a cada passo, um pouco mais para lá, conjuntamente com a mescla de entusiasmo e cansaço que nos possuía, deve ter criado em nós um torpor gerador de visões. Era dia e, por obra do que James alega ter sido um eclipse, vez-se noite. Já segundo Eveline tudo se deveu a James, no seu deambular, se ter entreposto entre ele e a crista cerrada. Não sou capaz de concordar com um ou discordar do outro, nem de distinguir com clareza o que cada um viu, ou supôs ver, pelo que não me irei preocupar com isso.
Houve sim um momento em que as pedras sobre as quais pensávamos caminhar se revelaram serem pequenos corpos com uma desproporcionada cabeça. Eram graníticos, polidas de lábios grossos e olhos sem fundo. Foi então que deixámos de ouvir os nossos passos e das cabeças saíram sons incompreensíveis. E contudo, aos poucos, conforme continuámos a caminhar, os pés começaram a encontrar sentidos nesses sons.
Depois, reparámos em gigantescas figuras de pedra que marcavam o caminho. Silenciosas, de longos braços, em diferentes posturas, pareciam tocar os sons que dançávamos. Nesse momento, o receio que sentíamos consubstanciou-se nos passos a que começámos a dar nomes. Um, a que chamámos aproximação, era feito de pequenos avanços e recuos, num outro, a que demos o nome de descida, o corpo atirava-se na direção da pendente mas não saía do lugar. No ponto, quedávamos-nos a ver Eveline rodar sobre nós, já na espiral tínhamos que a suster enquanto ela girava.
Suspeitei que estes passos formavam uma língua. A isso não é de todo estranho o ter verificado que cada um dançava os passos de forma diferente. Por exemplo, como era diferente a forma como eu e James executávamos a aproximação. E James era exímo nos labirintos, colocava os pés entre as cabeças no chão e subitamente desaparecia entre as figuras de pedra, reaparecendo depois, mais à frente, ou atrás. Ah... e como era Eveline graciosa em linhas e arcos.
Sem comentários:
Enviar um comentário