sábado, 25 de julho de 2015

Sexagésimo nono dia

Há algo de incontornável no sexagésimo nono dia, mesmo que se contorne. Isso sente-se logo ao esboçar do quinquagésimo segundo. Este, de identidade própria, tem apenas o aproximar do outro.

Não é sequer um dia menor do ano da areia. Prenhe das costumeiras repetições, gira sobre si próprio sem nada mudar, como num filme pornográfico em que continuamente se muda de posição para continuar a fazer exatamente o mesmo, num grau zero do Kamasutra.

Nos biliões de imagens já filmadas, e nos biliões por filmar, encontra-se um apagar, uma indolência e uma ausência de vaidade, a qual sendo o mais ténue dos pecados é também o único, pois todos os restantes necessitam deste primeiro passo.

Outros dirão que não é vaidade, é vontade, está em todas as coisas, e nem sequer é pecado. Pertence, sim, à eterna ordem natural do manducar, da irrevogabilidade da vontade na alteração das formas.

Sim, é verdade que em alguns atores, principiantes, se nota alguma luz, mas isso é porque este bicho tem uma abissal vontade de sonhar. Contudo, a indolência é rainha num mundo onde na mais completa ausência de pecado se procede à sua mais acabada representação.

Um mundo como indolência e representação que Schopenhauer terá ignorado.

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