domingo, 5 de julho de 2015

Cairo

Agora que recebo a notícia que num bote de borracha cheio de miséria não cabem dois Deuses vem-me à memória

Cairo

Acredito nas constantes, nas repetições. E de tal forma acredito que as procuro mesmo quando lá não estão. Assim, não acredito em Deus muito para além desta débil teoria unificadora com que desejo ver o mundo. Todavia quero acreditar que a paz é a mesma.

Recordo passear no Cairo e entrar por alguns bairros com a intenção de ver como é o mundo sem esfinges nem pirâmides. Num lugar entre casas castanhas e baixas, um garoto diz-me, na língua possível de quem não fala a mesma língua, que um homem santo quer falar comigo.

Entro por uma porta. Lá dentro é fresco e escuro. Quando os olhos se habituam vejo ao fundo um homem que sorri. Com a ajuda do débil intérprete começa a falar de Deus. Diz que o meu Deus e o Deus dele não são assim tão diferentes. Que é bom ambos acreditarmos. Naquele tempo ainda não tinha pensado nas constantes e sou acometido de sinceridade. Digo-lhe, com pena, que não acredito em Deus.

Tenho à minha frente um rosto hirto com um braço estendido que me aponta a luz da rua. De novo cá fora, debaixo do sol impiedoso, continuo a caminhar por entre um amarelo acastanhado que tudo cobre.

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