domingo, 26 de julho de 2015

Gallus Prostratus

— Isto agora anda tudo trocado, homens com homens, mulheres com mulheres. Nem quero saber, pois comigo não, não, quantas vezes as prostrei eu, belas mulheres, cabelos negros, ruivos, louros, haréns, ou não me chame eu Feliciano. Falava-lhes ao ouvido e elas quietas e mudas, já sabiam ao que vinha, mediam-me, não perdiam pita do que dizia. O ouvido de uma era a boca de um altifalante, as palavras propagavam-se e eram às dezenas os pares de olhos que me auscultavam quando passava. O sucesso é assim, sempre a subir, e um homem tem que se aguentar, não é para todos. Nunca deixei nenhuma triste, que um homem deve ser feito de princípios. Claro que outros achavam que eram mais que eu, muito mal disseram, que não fazia, que cantava de galo, que eu não as cuidava, que a assistência não era como devia. Apontavam falhas aqui e ali, pormenores, qualquer coisa servia, mas o que era? Era inveja... Sim invejas, que um homem deve seguir em frente, de cabeça erguida, que a inveja rasteja e não se deve pôr-lhe os olhos em cima. Por isso onde tu chegavas Feliciano era uma calma, harmonia sobre harmonia, uma Pax Romana, que para isso servem armas. Ai Feliciano, e agora aqui prostrado e esses miúdos passam por ti e fingem que não te veem, devem pensar que sabem, que cantam bem... Próstatas novas.

In da Memória da Areia dos Bichos

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