terça-feira, 28 de julho de 2015

Cujo nome já não recordo

Uma mulher, cujo nome já não recordo...

E não recordo de facto, embora conceda que fica bem começar assim. E ainda melhor fica admitir que se reconhece. Bom, talvez recorde um nome como se recorda uma sequência de letras, mas, sendo o que escrevo o que é,  o significado dessa sequência é irrelevante.

E dizia, uma mulher, cujo nome já não recordo, sentou-se à minha frente... Não é nova, mas por vezes tem lapsos de juventude. Então nota-se frescura e ficamos na dúvida se a vemos como é ou como era.

Mas não nos dispersemos pois isso nada acrescenta.

Esta mulher, cujo nome já não recordo, senta-se à minha frente e começa a falar sobre a fidelidade. Vai contando como aceitou ser fiel sabendo que marido não o era, e assim viveu anos numa espécie de felicidade consigo mesma. 

Deixo-me absorver pela sinceridade com que fala, e acho que consigo visualizar os lapsos de juventude a percorrerem-lhe a cara como ondas. Mas isso sou eu.

Esta mulher com um nome que já não me recorda, conta como ajudou a prender um homem, seduzindo-o. Explica como foi perigoso, como construiu uma encenação, uma teia de mentira para fazer tropeçar o lado bom de um homem mau. 

Percebo a determinação desta mulher, mas já não sigo mais o que diz. Ausento-me.

Dou comigo a imaginar dois espelhos simétricos, num o marido seduz, noutro seduz ela. São a mais perfeita cópia um do outro, mas apenas num há traição. No outro há algo mais estranho e difuso.

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