O inferno enquanto o copular entre o bem e o mal poderá parecer excessivo. Mas nada como procurar exemplos. Zen at War de Brian Victoria, sobre o Budismo Zen no período Meiji (1868-1945) no Japão e a sua subordinação ao estado pode ser um desses exemplos. Brian Victoria descreve como o Budismo Zen para "sobreviver" se foi moldando à política imperialista Nipónica e contribuiu para a máquina de guerra, como os princípios do não-ser eram usados na doutrinação dos Kamikaze. Uma manifestação deste inferno é patente num texto de D. T. Suzuki citada em Zen at War:
The sword is generally associated with killing, and most of us wonder how it can come into connection with Zen, which is a school of Buddhism teaching the gospel of love and mercy. The fact is that the art of swordsmanship distinguishes between the sword that kills and the sword that gives life. The one that is used by a technician cannot go any further than killing, for he never appeals to the sword unless he intends to kill. The case is altogether different with the one who is compelled to lift the sword. For it is not he but the sword itself that does the killing. He has no desire to do harm to anybody, but the enemy appears and makes himself a victim. It is as though the sword performs automatically its function of justice, which is the function of mercy... When the sword is expected to play this sort of role in human life, it is no more a weapon of self-defense or an instrument of killing, and the swordsman turns into an artist of the first grade, engaged in producing a work of genuine originality.
A questão está em saber se nesta separação entre o que empunha a espada e a morte da espada existe hipocrisia ou se será apenas cegueira formal. Se for cegueira formal então ainda poderemos encontrar alguma beleza nas espadas que cumprem o seu destino, algo que também se encontra em algumas histórias de Borges, como se a propagação do ódio pudesse ser feita através da herança do faqueiro. Infelizmente, a ausência em D. T. Suzuki de qualquer dor no pós-guerra, e a continuação do boiar, sugerem mais a hipocrisia ou, talvez, o seu entrelaçar com a cegueira formal.
A ironia, e é a ironia que o poder teme pois jamais a ironia conseguiu alcançar o poder, é que filosofia Zen é muito influenciada pelo Tao Te Ching. Uma ironia Taoista/Zen, e por isso não é demais relembrar o décimo oitavo poema do Tao Te Ching:
Quando o grande Tao é esquecido,
surgem leis impondo a justiça e a piedade.
Quando a esperteza e o intelecto se espalham,
surgem os hipócritas.
Quando os laços familiares entram em conflito
surgem o dever filial e os rituais religiosos.
Quando o país está em crise
surgem os indivíduos patriotas.
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