domingo, 28 de outubro de 2012

Os blogues, segundo Fernando Pessoa

Ah, que inveja que eu tenho do blogue seguinte. Tão cheio de ódio, amor ou raiva. Tão certo do que deve ser, ou cheio de vazio e a suplicar que aconteça algo a seguir.

Como me emociono com a verdade que encontro neste blogue e por uns instantes dou-me ao luxo de esquecer que eu sou o que não está lá, o que não a quer encontrar. Ah, que inveja.

Que inveja que eu tenho do teu corpo, que não é o meu e pressinto nesse blogue, um corpo que insinuas cheio de chuva e flores. Um corpo que eu quero para sentir inveja.

Como invejo as cadeiras do relvas e à socapa me sento numa delas. Respiro fundo e permito-me pensar que este reino é meu, até que o autor vem a correr comigo, dizendo que esta cadeira é do relvas, não é minha, que posso sentir inveja, mas não posso estragar o blogue. Ah, que inveja.

Sinto inveja desse teu pequeno poema que ninguém comenta, por inveja. Imagino essas palavras na minha boca. Palavras que a tão enchem que basta mover as mandíbulas para se propagarem como um post num blogue. Que inveja.

E arrasto a inveja de um blogue para o blogue seguinte. E a inveja vai-se partindo aos bocados. Um pouco fica neste blogue, mas tento guardar algo para poder continuar a caminhada. E é um contrassenso isto que andar com a inveja aos pedaços. Ela quer-se forte, junta, sentida. Ai que inveja.

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